Omnes Viae: Contos Fantásticos | P. H. Ludwig
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Omnes Viae: Contos Fantásticos | Resenha

por. Thiago Marques
Publicado: Atualizado: 0 comentário 8 minutos de leitura

Recebemos gentilmente uma cópia de Omnes Viae: Contos Fantásticos diretamente do autor P. H. Ludwig para uma resenha sincera da obra.


Omnes Viae: Contos Fantásticos é o livro de estreia do escritor e roteirista gaúcho P. H. Ludwig. Publicada de forma independente em eBook, a obra reúne dez contos que transitam entre o mundo da fantasia, da ficção científica e do suspense.

Sinopse

Em “Omnes Viae”, todos os caminhos levam a um destino estranho. Um guerreiro que ao final da jornada encontra algo inesperado em “Os Portões de Celuth”; um projeto para desenvolver Inteligência Artificial com resultados surpreendentes de “Spelaion”; um ser que atingiu o Nirvana e agora precisa voltar para o plano terrestre de “O Errante”.

 

São 10 contos de fantasia, sci-fi e algo mais, que por vezes tentam questionar o significado das histórias, e o propósito das jornadas dos protagonistas. Os contos exploram mundos e universos diferentes, criando mitologias e deuses próprios. E por vezes até reimaginam o conhecido. Como o folclore brasileiro com “A História do Saci História”; e como seria o último livro escrito pela humanidade, em “O Último Livro”.

“Omnes Viae” pode ser traduzido como “todos os caminhos”. Não por acaso, cada um dos contos delineia uma certa trajetória rumo a algum final totalmente inesperado. Devido à miscelânea de gêneros, o autor teve a liberdade de traçar tais caminhos que remontam de um passado mítico — com interações diretas entre deuses e homens — a futuros projetados em uma era de exploração espacial na qual a inteligência artificial é uma companhia constante.

Foto promocional de Omnes Viae: Contos Fantásticos | P. H. Ludwig | eBook de fantasia, ficção científica e suspense

Omnes Viae: Contos Fantásticos | P. H. Ludwig


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A história se repete

O primeiro dos contos é Os Portões de Celuth, uma prisão para os deuses. Ali são aprisionados os deuses que os mortais esqueceram ou não compreenderam. Deuses múltiplos que foram condensados em uma única entidade e aqueles que representam, aos olhos dos mortais, diferentes visões de mundo. E com esses seres divinos residem as respostas para as questões fundamentais pelas quais os mortais digladiam-se.

Dentre os contos do livro, este é um dos mais marcantes e inquietantes. A trajetória do protagonista Vithasi Tyus reflete o caminho daqueles que são levados a enxergar algo que os demais não veem, mas que nada podem fazer para demovê-los de seguir o curso prejudicial. As pessoas não aprendem com os erros dos seus antecessores. E assim, a história se repete.

Ciclos de criação e destruição

Em Criação e Destruição, é abordado o incessante ciclo do nascimento e morte dos elementos do universo. Aqui, tudo é criado para, por fim, ser destruído. Os protagonistas são duas divindades, Dogen e Endogan, relacionados de forma aparentemente paterno-filial. O primeiro, é o criador de tudo no universo. A segunda, diverte-se pela eternidade destruindo toda a criação, destinada precisamente ao seu entretenimento.

Neste conto, é marcante a ideia de que o processo de construção é muito mais demorado e elaborado do que a destruição. Da mesma forma, é patente o vazio interior do destruidor: jamais satisfeito ao reduzir os grandes feitos ao nada, mas incorrigivelmente inclinado a agir desse modo.

Tudo é alterado quando uma civilização avançada é criada por Dogen, resiliente aos cataclismos e afeita à cooperação. O prodígio tecnológico desse povo é suficiente para desafiar a ordem natural mantida pelos deuses, provocando, assim, resultados imprevisíveis.

Histórias sobre histórias

Os contos Pavuna e A História do Saci História, versam sobre o valor das histórias como elementos definidores das relações sociais.

No primeiro caso, temos uma aldeia indígena que não escapa dos efeitos mais comuns da vida civilizada. Pavuna fala sobre como o passar do tempo pode conduzir ao conforto. Sobre como o conforto pode levar ao afastamento e eventual esquecimento dos mitos que permeiam a história de um povo. Sobre como histórias são sobrepostas a outras, atribuindo novos significados aos seus personagens, não sem mudar para sempre quem nela toma parte. Como em um rito de iniciação.


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A História do Saci História é uma narrativa contada sob a ótica do Saci, insatisfeito com a forma pela qual ele foi retratado nas histórias populares, ou seja, pouco mais que um ser travesso e malvado. Por esta razão, resolve se afastar da humanidade, furtando suas histórias e igualmente deturpando-as em retaliação. O cerne deste conto é o temor ao desconhecido e as consequências negativas que esse medo ocasiona nas pessoas.

O Último Livro

Esse foi o conto que mais gostei.  Quase um manifesto contra as armadilhas do progresso, O Último Livro mostra possíveis consequências da crescente demanda por aquilo que é imediato. Não há mais espaço para o exercício da imaginação. Seria não somente o fim dos livros, mas também de algo muito mais profundo que as páginas empoeiradas contribuem para preservar. É também o conto mais difícil de falar a respeito sem entregar o seu desfecho. Torçamos para que não haja nada de profético nele!

Suspense

O suspense fica por conta de Click, uma história perturbadora ambientada em um porão, onde estão armazenadas obras de arte pertencentes a uma falecida senhora. É o conto mais curto também, embora a narrativa fluida facilite a ambientação do leitor, compartilhando as emoções da protagonista.

Visões do futuro

Antes de mais nada, devo dizer que não sou um grande leitor de ficção científica. No entanto, Inteligência Primitiva conseguiu prender a minha atenção até o fim. Aqui temos uma dupla no comando de uma nave espacial, acompanhados pela inteligência artificial chamada de Isaac. Ao perderem o controle sobre a nave, o desespero toma conta dos dois, enquanto são dirigidos rumo ao desconhecido. Mais uma vez o autor acerta a mão com um final inesperado e convincente.


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O outro conto de ficção científica é Spelaion. O título pode ser traduzido como “cavernas” e só posso presumir que isso seja uma referência à Alegoria da Caverna de Platão. A realidade para o indivíduo objeto da simulação é aquela que a sua programadora estabeleceu, embora ela o tenha provido com a capacidade de alcançar a verdade. Confesso que a tônica desse conto não se encaixa bem ao meu paladar, mas caso se interesse pelo tema, certamente será do seu agrado.

O Errante

Um dos contos mais complexos do conjunto. Talvez, complexo até demais. O nome faz referência ao protagonista que, após finalmente ter encontrado seu lugar existencial e alcançado a plenitude, é despertado de seu estado de conexão com o universo para voltar a errar pelo mundo. Abandonado pelos deuses e esquecendo-se de sua própria história, ele encontra o desespero. A premissa é fascinante, mas a execução deixou a desejar frente aos demais contos do livro.

A Folha

A Folha é outro conto que aborda a temática da escrita. Da hesitação por parte do escritor em expor a sua arte à crítica alheia, ainda que ansioso por colocar as suas ideias no papel. O tema é interessante e, certamente, bastante pessoal para um escritor. Infelizmente, este é o conto mais fraco do livro.  Em meio aos conflitos entre os narradores e entre os personagens por eles criados, o diálogo torna-se cansativo e bastante destoante do conjunto da obra.


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Podemos identificar nos protagonistas dos contos diversas questões que têm levado os seres humanos à reflexão ao longo dos milênios. Isso só foi possível devido ao fato dos personagens terem sido escritos habilidosamente, mesmo levando em conta o tempo curto que contos permitem passarmos com eles.

Embora seja o livro de estreia de P. H. Ludwig, é notável a familiaridade que ele possui com diferentes gêneros literários. A evidência disso é encontrada na fluidez na qual a maior parte dos contos é narrada. No entanto, essa miscelânea de gêneros em uma única publicação acabou sendo o ponto fraco de Omnes Viae. A diferença marcante, não de cenário, mas de linguagem entre alguns dos contos e os demais pode acabar afastando leitores menos ecléticos.

Seja como for, temos aqui uma promessa de literatura fantástica brasileira. Fica aqui o apelo para que voltemos a Celuth e que tenhamos outras oportunidades de escutar Pavuna, Guaíra e o Saci enaltecendo o poder do mito e das histórias.

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Ficha técnica

Omnes Viae: Contos Fantásticos
Autor: P. H. Ludwig
Formato: eBook
Editora: Independente (janeiro de 2019)

Sobre o autor

P. H. Ludwig é escritor e roteirista com paixão por contar histórias. Autor do livro Omnes Viae e diversos contos espalhados por antologias e pela internet.


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