Chefe oretano solicita bênção diante de uma altar à sua falcata. | Arte: Angus McBride | Osprey | via Arre caballo!
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Tumbas de 25 aristocratas iberos são encontradas na Espanha

por. Thiago Marques
Publicado: Atualizado: 0 comentário 8 minutos de leitura

Arqueólogos encontraram as tumbas de 25 aristocratas iberos que supõe-se terem morrido na batalha que vitimou o famoso comandante cartaginês Amílcar Barca. A informação é do El País.


Os túmulos, encontrados originalmente em 2013, datam aproximadamente do século III a.C. Naquela época, a Península Ibérica era uma miscelânea de comunidades, incluindo iberos, celtas, celtiberos (produto da assimilação entre as duas anteriores) e lusitanos. Esses povos foram pegos na disputa de poder entre dois grandes impérios do período: Roma e Cartago, durante as Guerras Púnicas.

O general Amílcar Barca (275-228 a.C.) pai do lendário comandante Aníbal, invadiu a Ibéria em 235 a.C. Arrasou diversas comunidades por onde passou. Isso ocorreu até que diversos grupos da península resolvessem aliar-se para declarar guerra ao conquistador. O fato foi marcado pela Batalha de Heliké, na qual Amílcar perderia a vida.

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Amílcar Barca | Arte: José Cabrera

Amílcar Barca | Arte: José Cabrera | via Weapons and Warfare

Não se sabe ao certo o local exato da antiga Heliké. Acredita-se que trate-se de Elche, em Alicante, ou Elche de la Sierra em Albacete.

O professor de Pré-história na Universidade de Castela-Mancha, David Rodríguez, falou sobre a descoberta.

“Não sabemos o papel exato desses iberos em particular nos eventos que envolvem a Segunda Guerra Púnica. Mas é muito tentador, embora muito improvável, imaginar que eles estavam com os cartagineses ou que talvez estivessem lutando ao lado do rei oretano Orisón em Heliké, uma cidade sitiada por Amílcar que vários contingentes dos oretanos tentaram libertar. Mas não pode ser uma coincidência que a maioria das tumbas mais ricas da necrópole de Alarcos, atribuída a guerreiros aristocráticos, seja deste exato período ou posterior.”

David Rodríguez

Ele acrescentou dizendo que tal período compreende entre os anos 220 e 90 a.C.


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Dois dos 25 túmulos pertenciam a mulheres que foram enterradas junto com suas armas. Outros três se destacam devido à quantidade e qualidade das riquezas que continham. Falcatas, escudos e lanças, freios que indicam a propriedade de cavalos e itens luxuosos feitos de ouro, prata e cornalina estavam entre os achados.

Tumbas de 25 aristocratas iberos são encontradas na Espanha

Falcatas e outras armas de ferro foram encontradas nas tumbas dos aristocratas iberos. no sítio arqueológico de Alarcos. | Foto: Ismael Díaz | via Wikipedia

Uma das tumbas era na verdade um cenotáfio, sem ninguém enterrado ali. Aparentemente, o guerreiro morreu longe do assentamento, dificultando a recuperação de seus restos mortais.


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Há ainda evidências dos sacrifícios realizados na ocasião da morte dos ocupantes das tumbas.

Um outro túmulo continha 453 ossos tálus de ovelhas. Segundo estimativas dos especialistas, foi necessário o sacrifício de 222 animais para o funeral. Os corpos dos mortos foram queimados e mantidos em vasos encontrados durante a escavação.

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Os corpos dos aristocratas iberos foram queimados e mantidos em vasos como este. | Foto: Universidade de Castela-Mancha | via El País

E não para por aí. A julgar pelos enormes blocos de pedra usados em sua construção, contando com degraus esculpidos, uma das tumbas pode ter pertencido a um príncipe. No entanto, os prováveis objetos de valor ali enterrados haviam sido saqueados há muito tempo.

Tumbas de 25 aristocratas iberos são encontradas na Espanha

A julgar pelos enormes blocos de pedra usados na construção, a tumba pode ter pertencido a um príncipe ibero. | Foto: Universidade de Castela-Mancha | via El País

No total, os 25 túmulos somam 327 objetos feitos pelo homem, sendo nove porcento deles feitos de ouro.

Segundo Rodríguez, a análise das sepulturas e dos objetos encontrados mostrou que havia diferenças notáveis entre os mortos. Eles foram classificados em três grupos diferentes: rico, intermediário e simples. Entretanto, todos os pertences indicam um status elevado quando comparados àqueles encontrados em diferentes escavações arqueológicas ibéricas na península, dentro do mesmo âmbito cultural. O fato que realmente surpreendeu os pesquisadores é a falta de evidências de pessoas comuns enterradas na necrópole.


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“Não sabemos o que eles fizeram com os restos dessas pessoas. Talvez eles tenham dado a elas um tipo diferente de enterro, como jogar seus corpos no rio, ou algo assim.”

David Rodríguez

O sítio arqueológico de Alarcos cobre uma área de 33 hectares acima de uma colina de 100 metros de altura. Isto, juntamente com outras defesas naturais como o rio Guadiana, tornou o local apropriado para a instalação permanentemente de uma comunidade.

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Vista do sítio arqueológico de Alarcos. A área marcada com as setas corresponde à necrópole dos guerreiros aristocratas iberos. | Foto: Universidade de Castela-Mancha | via El País

“A necrópole de Alarcos desencadeou um salto notável no nosso conhecimento sobre os sepultamentos ibéricos, pois pudemos apresentar uma coleção contextualizada de túmulos e materiais que nos permitem oferecer uma definição mais fidedigna do ritual funerário ibérico em geral e dos oretanos em particular.”

David Rodríguez

É impossível saber com certeza se esses guerreiros mataram Amílcar. Entretanto, de acordo com o historiador romano Apiano, sabemos como o general morreu.


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“Os reis iberos o mataram da seguinte maneira: eles levaram carroças cheias de troncos puxados por bois seguidos por outros com armas. Ao vê-los, os africanos [cartagineses] começaram a rir. Mas quando eles se aproximaram, os [oritanos] atearam fogo nas carroças e as lançaram na direção do inimigo. O fogo desconcertou os africanos. Tendo rompido suas fileiras, os iberos mataram Amílcar e um grande número daqueles que o defendiam.”

David Rodríguez

Em setembro, a equipe de Rodríguez, que inclui voluntários do curso de História da universidade, retornará ao sítio arqueológico. O objetivo dos trabalhos será investigar as estruturas sociais entre os aristocratas iberos enterrados nas tumbas.

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Arqueólogos escavando as as tumbas da necrópole de Alarcos. | Foto: Universidade de Castela-Mancha | via El País

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