Arqueólogos participaram da descoberta de um antigo reino perdido que pode ter derrotado a Frígia do lendário rei com toque de ouro, Midas.
O reino data entre os anos 800 e 600 a.C. e foi descoberto com o auxílio de arqueólogos do Instituto Oriental da Universidade de Chicago e do Projeto de Levantamento Arqueológico Regional de Cônia, na atual Turquia. Eles seguiram a pista de um fazendeiro local que afirmou ter avistado uma grande pedra contendo inscrições hieroglíficas enquanto dragava um canal de irrigação.
O professor assistente do Instituto Oriental, James Osborne, falou sobre a descoberta.
“Minha colega Michele Massa e eu corremos direto para lá e conseguimos vê-la ainda com uma parte para fora d’água. Então, pulamos direto no canal, perambulando com a água até a nossa cintura. Imediatamente ficou claro que era algo antigo e reconhecemos a escrita: luvita, a língua utilizada nas idades do Bronze e do Ferro na região.”
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O bloco de pedra, uma estela, foi traduzida pelos pesquisadores do instituto Petra Goedegebuure e Theo P. J. van den Hout. Uma marcação especial indicava que a mensagem foi redigida por um rei, que vangloriava-se da vitória contra a Frígia. A língua luvita é uma das mais antigas da família indo-europeia e é lida de forma alternada da esquerda para a direita e da direita para a esquerda.
“Os deuses da tempestade entregaram os reis [opositores] à sua majestade.”
Acredita-se que o reino, cujo nome ainda é desconhecido pelos cientistas, ocupava uma área de aproximadamente 120 hectares no seu apogeu. Era, portanto, uma das maiores cidades-estado das idades do Bronze e Ferro situadas no território da atual Turquia.
A tradução deles revelou que o rei se chamava Hartapu. Indica ainda que a atual cidade de Türkmen-Karahöyük era provavelmente sua capital. A pedra conta a história da conquista pelo Rei Hartapu do reino vizinho de Muska (Frígia), lar do Rei Midas.
A análise linguística realizada pelos pesquisadores do Instituto Oriental revelou que a inscrição na estela foi realizada no século 8 a.C. tardio. O período coincide com o lendário reinado de Midas de acordo com textos gregos e assírios. O achado serviu para desvendar o mistério de uma inscrição hieroglífica encontrada a poucos quilômetros dali, referindo-se a um, até então desconhecido, Rei Hartapu
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Os trabalhos revelaram fragmentos de cerâmica de mais de 3.000 anos atividade humana no local, que é um assentamento localizado sobre um monte. Osborne está otimista acerca do que esperar para as próximas fases dos trabalhos.
“Dentro deste monte haverá palácios, monumentos, casas. Essa estela foi uma descoberta maravilhosa e um incrível golpe de sorte, mas é apenas o começo.”
O mito de Midas
O mítico rei da Frígia teria acolhido Sileno, o sátiro mestre e pai de criação de Dionísio, que havia se perdido embriagado em seu reino. O rei reconheceu-o e tratou-o com hospitalidade durante dez dias. No décimo primeiro dia, Midas retornou-o a salvo ao deus. Como agradecimento, Dionísio ofereceu ao rei o direito de escolher a recompensa que desejasse, não importando o que fosse. Midas escolheu obter a capacidade de transformar em ouro tudo aquilo que tocasse. Dionísio entristeceu-se com a escolha, que julgou equivocada, mas concedeu o poder ao rei.
Para pôr a prova seu novo poder, Midas pegou com a mão um pequeno ramo de carvalho e ficou estupefato ao vê-lo transformar-se em ouro. O mesmo fez com uma pedra, com um punhado de terra e com uma maçã.
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Extasiado com seu dom recém-adquirido, ordenou aos criados que servissem uma magnífica refeição. No entanto, ao colocar a comida na boca, não conseguia mastigá-la, pois ela havia tornado-se ouro. O mesmo aconteceu com o vinho, que descia por sua garganta feito ouro derretido.
Em alguns mitos, Midas chegou a transformar a própria filha em ouro, ao tentar consolá-la por ter extinguido o perfume de uma flor de seu agrado igualmente tocada pelo rei.
Consternado, Midas tentou livrar-se do poder antes que morresse por inanição. Pediu a Dionísio que desfizesse o seu desejo e ele assim consentiu. O deus ordenou-o que fosse até o Rio Pactolo e procurasse a sua nascente. Ali, ele deveria mergulhar a cabeça e o corpo para lavar a sua culpa. Ao tocar a água, o poder fluiu de si e fez com que as areias do rio assumissem a cor do ouro, assim permanecendo até os dias de hoje. Daquele dia em diante, Midas passou a viver no campo, rendendo culto a Pã, o deus dos campos.
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- Mais Belas Histórias da Antiguidade Clássica – Volume 1 | Gustav Schwab
- Classical Mythology: Myths and Legends of the Ancient World | Nathaniel Hawthorne, M. M. Bird, Mrs. Guy E. Lloyd et al.
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