Uma equipe de arqueólogos está escavando um monte funerário de 4.000 anos em Anglesey, País de Gales, conhecida como a “Ilha dos Druidas”. A informação é do Live Science.
Anglesey é uma ilha situada no Mar da Irlanda, no noroeste do País de Gales. É pontilhada por numerosos monumentos de pedra do Neolítico e da Idade do Bronze. O mais famoso dentre eles é o túmulo de passagem de Bryn Celli Ddu (“o monte no bosque sombrio” em galês), que tem mais de 5.000 anos. Ele possui uma entrada que se alinha com o sol nascente no solstício de verão do Hemisfério Norte, em 21 de junho.
A atenção dos arqueólogos modernos foi atraída para um monte funerário a cerca de 50 metros do Bryn Celli Ddu. A expectativa era a de que as atuais técnicas científicas pudessem revelar novos detalhes sobre os responsáveis por sua construção.
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A arqueóloga Ffion Reynolds da Universidade de Cardiff vem coordenando escavações no sítio de Bryn Celli Ddu desde julho de 2014. Ela contou ao Live Science que as escavações no monte funerário já estão quase concluídas. Agora, testes científicos contribuirão para determinar a presença ou não de restos mortais humanos no local.
As escavações revelaram que o monte funerário foi erigido durante a Idade do Bronze, muito tempo após a construção do túmulo neolítico original. Reynolds acrescentou que alguns dos artefatos encontrados podem ser ainda mais antigos que a própria tumba.
“Isso sugere que Bryn Celli Ddu fora uma localidade cerimonial especial por milhares de anos.”
Ilha dos Druidas
Atualmente, Anglesey é famosa por sua suposta ligação com os druidas. O papel desses indivíduos nas sociedades celtas foi descrito por Júlio César e, posteriormente, pelo historiador romano Tácito. Até hoje nenhuma evidência arqueológica foi encontrada a respeito dos druidas. No entanto, gerações de escritores os retrataram como líderes religiosos dos povos celtas.
Outrora, acreditava-se que monumentos megalíticos como Bryn Celli Ddu e Stonehenge, na Inglaterra, haviam sido construídos por druidas. Arqueólogos modernos concluíram que, na verdade, eles foram construídos milhares de anos antes da chegada dos celtas à Grã-Bretanha, há cerca de 2.000 anos.
Dessa forma, o monte funerário é anterior ao período em que a misteriosa ordem dos druidas teria conduzido questões espirituais, jurídicas, culturais, médicas e de aconselhamento político entre as populações celtas das Ilhas Britânicas.
O fato dos druidas não terem deixado relatos escritos, os tornou objeto de retratos por parte de seus inimigos. Aliás, abriu espaço para o questionamento acerca da própria existência da ordem druídica.
A narrativa de Tácito
No final do século I d.C., 50 anos após a invasão de Anglesey pelos romanos, Tácito descreveu a ilha como o centro da resistência celta na Grã-Bretanha. Segundo ele, os druidas tomaram parte ativamente entre os defensores. Tácito afirma que os invasores romanos teriam ficado muito surpresos ao avistar os druidas lançando maldições contra eles.
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No ano 60 d.C. o general romano Caio Suetônio Paulino realizou um ataque surpresa contra Anglesey. Destruiu santuários e monumentos sagrados com a finalidade de minar o poder dos druidas na ilha. O general não conseguiria completar a sua conquista, no entanto. Ele receberia notícias da revolta liderada pela rainha celta Boadicea, forçando-o a retirar-se de Anglesey.
As forças romanas retornariam em 78 d.C., lideradas pelo general Cneu Júlio Agrícola, para consolidar a conquista.
Existência dos druidas questionada
De acordo com Ronald Hutton (Blood and Mistletoe: The History of the Druids in Britain), historiador da Universidade de Bristol, o mito da ligação entre os druidas e Anglesey surgiu a partir daquela única menção. Hutton afirma não haver evidência alguma da presença de druidas na ilha. Segundo ele, o mesmo pode ser dito a qualquer outra parte das Ilhas Britânicas.
Hutton afirma que a descrição feita por Tácito
“pode ter sido baseada em uma declaração de testemunhas oculares ou pode ter sido inteiramente inventada pelo próprio Tácito com a finalidade de florear sua narrativa sobre o ataque a Anglesey. Não há como saber.”
Túmulo antigo
Do mesmo modo que Hutton, Reynolds também duvida da existência dos druidas.
“Em um sentido arqueológico, não encontramos nenhuma evidência sobre os druidas em nenhum lugar do País de Gales. Então é difícil dizer se eles existiram ou não.”
No entanto, existem evidências que sugerem que monumentos antigos como Bryn Celli Ddu foram freqüentemente utilizados com finalidade cerimonial pelos povos posteriores, acrescentou Reynolds.
Evidências arqueológicas sugerem agora que a tumba original foi iniciada no período Neolítico, cerca de 5.000 anos atrás. Posteriormente, a construção seria incrementada ao longo de séculos, disse ela.
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Durante as escavações mais recentes, foram encontradas cerâmicas e ferramentas de pedra da Idade do Bronze. Os achados indicam que o monte funerário foi construído 1.000 anos após o túmulo de passagem neolítico.
Levantamentos geofísicos e escavações também revelaram estruturas e artefatos muito mais antigos enterrados em diferentes locais ao redor do túmulo de Bryn Celli Ddu. As descobertas incluem um círculo de poços e pedaços de cerâmica neolíticos, restos de um machado de pedra, painéis de arte rupestre, evidências de cremação e ossos.
“As pessoas retornaram a esta paisagem ao longo de milhares de anos. Eles estavam deixando sua própria marca na paisagem.”