Da (E) para a (D): Christian Feel, Renato Zingano Velho, Leandro Dias e Caio Haag. | Bando Celta
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Bando Celta | Entrevista com a companhia artística folk

por. Thiago Marques
Publicado: Atualizado: 0 comentário 11 minutos de leitura

Conversamos com Renato Zingano Velho, fundador do Bando Celta, sobre o passado, o presente e o futuro dessa companhia artística que tem turbinado o cenário folk/medieval brasileiro.

Antes de mais nada, gostaria de agradecer a disponibilidade em responder a esta entrevista. Poderia começar com um breve histórico da banda? Quem são, que instrumentos tocam e quais são as influências musicais dos bardos do Bando Celta? O que os levou a compor e tocar música celta?

O grupo tem como data oficial de sua criação o dia de São Patrício de 2013, mas a pedra fundamental foi bem antes disso. Entre 2006 e 2010 houve um projeto de pesquisa musical, o Tradisons, na Usina do Gasômetro e foi lá que surgiu a primeira célula do Bando.

Coordenado pelos músicos Renato Velho (violão, mandola, banjo e vocais) e Caio Haag (vocal e bodhran), conta com os talentosos Leandro Dias (gaita de foles, flautas e percussão) e Christian Feel (violino e eletrônicos), o Bando se apresenta com figurino celta estilizado, desenhado por Margarida Roche. Nos roteiros dos shows, além das genuínas músicas celtas mescladas com composições próprias, versões de músicas brasileiras que dialogam com esse estilo, como Pagode Russo, um clássico da cultura nordestina de Luiz Gonzaga.

O Bando Celta lançou dois CDs, Demo Celta (2013) e Bardos (2015); e o DVD Bardos (2015). Em agosto de 2018 lançou um livro, o HQ infantil Os Bardos de Erin, que também virou uma peça de teatro onde os músicos interpretam seus personagens.

Entrevista com o Bando Celta

Renato Zingano Velho | Bando Celta


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Dizer que o Bando Celta é “uma banda de música celta” talvez não seja o mais adequado. Além da música, vocês incorporaram a dança em suas apresentações, abraçaram o teatro com a trupe dos Bardos de Erin e já enveredaram pelo meio literário. Como surgiu a ideia de explorar esses outros segmentos artísticos? Poderia falar um pouco sobre essas atividades?

Realmente dizer que o BC é uma “banda’ já é estranho para nós. Temos o conceito de banda como algo muito engessado, datado e quase estereotipado ao público. Somos um grupo ou conjunto musical, para dizer o mínimo. Ao longo de nossa trajetória, fomos atraindo e buscando pessoas muito bacanas que acrescentaram artisticamente ao nosso show e também para o desenvolvimento de nossa concepção e identidade como, por exemplo, a figurinista Margarida Roche, a focalizadora de danças circulares Pati Preiss e a professora de dança tribal Fernanda Zahira Razi.

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Quando decidimos fazer a 1ª Feira Medieval em 2016, já tínhamos amigos/parceiros na dança, na literatura, figurinos, vídeo, cerveja artesanal, hidromel, teatro, circo, artesanato e por aí viramos uma Companhia Artística, ou seja, a Feira Medieval é, para nós do BC, não um evento e sim um espetáculo.

Em 2017, o Bando participou de algumas Feiras Literárias Municipais e as crianças ficavam perguntando como começou o Bando e de onde a gente tinha vindo. Esse foi o trampolim para criarmos Os Bardos de Erin, que é uma HQ e peça teatral, escrita por Renato Z. Velho e Caio Haag. A peça tem direção do premiado Camilo Di Lelis.

Entrevista com o Bando Celta

Os Bardos de Erin | Bando Celta

A versatilidade do grupo se estendeu também para a organização de eventos. Quando foi que o Bando Celta enveredou por esse caminho e quais são os eventos organizados de forma recorrente por vocês?

Em 2016 inventamos um evento muito louco que foi o Raft Celta. Era um banquete com raft durante uma noite de lua cheia na cidade de Três Coroas. Era maio, um baita frio! No mês seguinte, tivemos o privilégio de tocar no Jantar medieval do Taberna Folk. Quando voltamos para Porto Alegre, escolhemos um lugar bacana e fizemos a 1ª Feira Medieval do RS.

Desde 2016, já realizamos feiras medievais por muitas cidades, como São Leopoldo, Novo Hamburgo, Nova Petrópolis, São Francisco de Paula, Erexim, Lageado e outras. Também Já fizemos dois Festivais de Beltane e um de Yule. Sem falar no nosso evento imersivo que é o Camp Celta Festival, evolução do Raft Celta e que acontece durante o carnaval. Ano que vem será a 4ª edição!

Com que objetivo vocês os realizam e de que forma vocês acham que eles tocam aqueles que os prestigiam?

A resposta para essa pergunta poderia ser uma tese, mas vamos lá. O BC começou tocando em PUBs, depois começou a participar de eventos e festivais de médio e grande porte. A 1ª Feira que realizamos foi por impulso. Não sabíamos o que esperar e ela foi um estrondoso sucesso. Somos uma Cia de Arte, temos uma produtora agora e decidimos seguir fazendo mais e mais eventos porque as pessoas gostam de ir e nos prestigiar.

A cada evento, muitos artistas trabalham e são remunerados por isso. Expositores conseguem dar vazão ao seu produto. Nunca vendemos cerveja industrial (ou latão) ou coisas que você encontrará em um shopping ou camelô. Quando a feira acontece, estamos girando uma roda importante e nos sentimos, também, responsáveis por ela. O feedback do público é maravilhoso, sabemos que já ajudamos muitas pessoas a serem mais felizes e terem acesso a novas experiências com o que a gente acredita ser efetivamente “cultura e entretenimento”.

Quando falamos em música celta, é muito comum imaginarmos verdadeiras “histórias ou narrativas musicadas”. Quais são os temas mais comuns nas composições de vocês?

Somos bardos celtas, contadores de histórias. Falamos de heróis da literatura fantástica, festas sob o céu a luz de fogueiras e nossa conexão com o universo.

E por falar em histórias, qual o momento mais marcante que vocês experimentaram nesses anos de estrada?

São seis anos e muitas histórias, muitas mesmo. Conhecemos lugares e pessoas incríveis, fica difícil destacar um momento. Mas foi no MDBF 2013 (Mississippi Delta Blues Festival, em Caxias do Sul), num final de semana de lua cheia de novembro, que nós tivemos a chance pela 1ª vez de tocar pra muita gente e sentir a reação da galera. Foi o momento que decidimos acreditar mais e perguntar menos sobre o que estamos fazendo.

Vocês têm mencionado a “abdução” dos seres humanos pela tecnologia nas chamadas promocionais das suas apresentações. Como vocês esperam contribuir para resgatar, mesmo que temporariamente, as pessoas dessa condição de desconexão com a sua natureza?

Realmente esse é um desafio e a gente o leva a sério, mas não queremos dizer para as pessoas o que é “certo ou errado”. Nós esperamos contribuir para esse resgate ao oferecer uma sonoridade que rompe com a estética usual de uma banda rocker ou com o conceito de fazer um folk acadêmico e comportado.

Nosso repertório traz ritmos que existem e são tocados e dançados há muitas gerações. As letras de nossas músicas falam de amor, natureza, místico e alegria, sem forçar a barra e respeitando as diferenças. Enxergamos nossa música como algo universal, que pode ser curtido por qualquer geração e em qualquer lugar. Porque, ao tirar o amplificador da tomada, o Bando Celta ainda pode tocar e todos sempre podem dançar.

Vocês estão prestes a lançar o EP Festim Pagão, o primeiro registro autoral de estúdio da banda. O que os fãs podem esperar deste lançamento? Como tem sido o processo de gravação e quem foi o responsável pela produção?

Nesse primeiro EP gravamos três músicas já conhecidas do público, Festim Pagão, O Cão Negro e Eu Sou do Folk; e mais duas instrumentais: um reel e uma polca. Musicalmente, o BC focou em registrar execuções espontâneas, valorizando a formação atual para depois acrescentarmos ingredientes extras que fazem parte da nossa concepção e nem sempre podemos experimentar ou oferecer ao público.

Então, as bases das músicas foram gravadas ao vivo no Estúdio Soma de Porto Alegre, igual como faríamos em um show, e depois nós adicionamos banjo, mandola, bouzouki, contrabaixo, berimbau de boca e percussões eletrônicas. Tudo isso está sendo finalizado com a produção coletiva dos integrantes do Bando e o técnico Tiago Becker.

Há mais algum lançamento no horizonte para o Bando Celta? O que podemos esperar para o futuro próximo?

Vamos produzir alguns clipes para o Festim Pagão. Queremos gravar um segundo EP e fazer um álbum físico com os dois EPs.

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Como vocês comparariam a situação do cenário folk/medieval brasileiro no início da carreira do Bando Celta com o panorama atual?

Sem sombra de dúvidas, nos últimos seis anos a cena folk/medieval cresceu com o surgimento de muitos novos grupos em todo o Brasil, acompanhando uma tendência da América Latina. Nesse cenário, o BC foi influenciado e influencia esse movimento numa busca constante de oferecer uma sonoridade diferenciada e fazer shows profissionais.

Vocês enxergam alguma influência extramusical para o crescimento da cena?

Certamente a literatura fantástica trouxe novos ares e abriu a sensibilidade das pessoas para o medievo/celta/viking e também ao místico, criando um ambiente onde grupos musicais como o duo Olain Ein Sof, Taberna Folk, Gaiteiros de Lume, Jornada Ancestral, Oaklore e outros tantos, junto ao BC, estejam tendo mais oportunidades junto à apreciação do público e mídia.

Bando Celta | Entrevista com a companhia artística folk 1

Bando Celta em ação na Feira Literária e Cultural de Taquara (2018) | Bando Celta

Agradeço mais uma vez pelo tempo cedido para responder às perguntas. Deixo aqui o espaço para que façam suas considerações finais e divulguem a agenda do Bando Celta.

Então, dia 10 de agosto vamos disponibilizar o EP Festim Pagão nas plataformas digitais. Conheçam nosso trabalho. Quem curtir nosso trabalho, pode nos seguir no Facebook e Instagram.

Também dias 10 e 11 de agosto tem a maior Feira Medieval do Brasil, com mais 2.000 de m² com muitos show, gastronomia e diversão para toda a família. A feira de 2019 será no Sesc Protásio Alves em Porto Alegre. Nessa edição, temos uma grande novidade que é um torneio de clãs. As inscrições vão até dia 5 de agosto! Confira o link:

Condado dos Clãs
Feira Medieval Sesc 2019

Abraço,
Renato Zingano Velho


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