Uma galeria de 70 metros de extensão escavada na rocha pelos iberos. | Foto: Victor Sainz | El País
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Descoberta na Espanha maior construção dos tempos dos iberos

por. Thiago Marques
Publicado: Atualizado: 0 comentário 7 minutos de leitura

Uma equipe de arqueólogos espanhóis descobriu a maior construção dos tempos dos iberos encontrada até hoje, remontando à Idade do Bronze. A informação é do El País.


Em algum momento entre os anos 2100 e 1500 a.C., em plena Idade do Bronze, um grupo de colonos se instalou em uma colina escarpada nos arredores do que hoje é a vila de Garcinarro, na província espanhola de Cuenca. Entretanto, por volta de 400 a.C., foram postos para correr pelos iberos. Estes seriam varridos dali pelos romanos que, por sua vez, perderiam o território para os visigodos.

Felizmente, em vez de destruírem os vestígios das culturas que os precederam, cada um dos povos simplesmente construiu suas comunidades sobre eles.

O sítio arqueológico de La Cava, com oito hectares de extensão, é descrito como “uma série de cápsulas do tempo”. Ali, os arqueólogos encontraram a maior construção ibérica conhecida até hoje, com três cômodos medindo mais de três metros de altura cada um.

Descoberta na Espanha maior construção dos tempos dos iberos

Descoberta no sítio arqueológico da La Cava, Espanha, a maior construção dos tempos dos iberos já encontrada. | Foto: Victor Sainz | El País


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O professor de História Antiga da Universidade de Castilla-La Mancha, Miguel Ángel Valero, falou sobre a descoberta.

“Até onde sabemos, não há nada igual a isso, mas ainda estamos investigando. O que geralmente encontramos nesses tipos de escavação são os restos de paredes feitas de pedra ou adobe, vez ou outra com mais de um metro de altura.”

Miguel Ángel Valero

Mar Juzgado, uma arqueóloga da equipe de Valero, acrescentou algumas palavras.

“Não sabemos o que vamos encontrar neste lugar porque não há nada semelhante com o que compará-lo.”

Mar Juzgado
Descoberta na Espanha maior construção dos tempos dos iberos

A arqueóloga Mar Juzgado examinando um dos três cômodos da “edificação singular”. | Foto: Victor Sainz | El País


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No início desta década, Antonio Fernández Odene, o então prefeito de Garcinarro, estava convencido de que havia um tesouro arqueológico a ser encontrado nos arredores da cidade. Por esse motivo, ele importunou as autoridades a respeito do assunto. Entretanto, ninguém deu bola para a sua insistência. Assim foi até Valero notar algo estranho no mapa arqueológico (um documento secreto sinalizando possíveis escavações em uma área).

Arqueólogos começaram a trabalhar no local em 2014. O Professor Valero encontrou evidências de uma mistura de culturas que se estabeleceram em um ponto central estratégico para comunicações entre o norte e o sul da península. O assentamento era situado sobre um penhasco com mais de 60 metros de altura.

Além de uma edificação considerada “singular” e medindo 70 metros quadrados, o complexo inclui os restos de um assentamento da Idade do Bronze e uma muralha daquele período cuja altura ainda não foi estabelecida. Contém também uma área coberta com centenas de pequenos buracos em uma superfície rochosa. É possível que tenha sido feita com fins decorativos ou espirituais.

Por fim, há também uma galeria de 70 metros de comprimento, com sete metros de profundidade, escavada na rocha pelos colonos pré-romanos, bem como dezenas de refúgios, que teriam sido ocupadas por eremitas durante a era visigótica.

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Os buracos podem ter sido feitos com fins decorativos ou religiosos. | Foto: Victor Sainz | El País


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Os arqueólogos ainda desconhecem a função exata da “construção singular”. Dentre as teorias levantadas, estão a de que servia como um templo ou a de que era um espaço destinado ao armazenamento e manuseio de produtos.

Um dos três cômodos da construção é dividido em duas áreas. O cômodo do meio é acessado por uma porta feita de rocha que teria um lintel. Já sua parede sul possuía um grande recuo de mais de um metro de altura. É possível que o lintel tenha sido pontuado por buracos para permitir que os raios do sol brilhassem na alcova. Sendo assim, imagina-se que os ibéricos possam ter colocado a imagem de uma divindade naquele espaço.

Uma surpresa para os arqueólogos é que a luz solar somente tocaria aquele ponto no final de agosto. Isso diferencia a construção de todos os relógios de Sol conhecidos, referenciados pelos solstícios de verão e inverno.

“É um mistério, pois o final de agosto não coincide com nenhuma estação agrícola. Por que eles iriam querer marcar essa data?”

Miguel Ángel Valero


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É possível que um terremoto tenha levado o lintel a cair do penhasco que protege a edificação no lado norte. Porém, os arqueólogos estão confiantes de que o encontrarão. Os cômodos são revestidos com recuos e depressões nas paredes. Nos pisos ainda é possível detectar evidências de lareiras e até mesmo as marcas deixadas por mesas. Os arqueólogos também encontraram cerâmicas, broches e ferramentas como martelos e picaretas da era ibérica, além de fragmentos de louças de terra sigillata da época romana e peças de metal dos visigodos.

Os tesouros arqueológicos de todos esses períodos sobreviveram graças à utilização do local pelos pastores de ovelhas. A misteriosa galeria de 70 metros, por exemplo, era um lugar adequado para abrigar dezenas de animais. Os animais, com seus dejetos, ajudaram a conservar os restos daquilo que ibéricos, romanos e visigodos deixaram para trás durante 2.500 anos.

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Cruz visigótica talhada perto de uma gruta habitada por eremitas em Garcinarro. | Foto: Victor Sainz | El País

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