Período de seca prolongada revelou um complexo megalítico apelidado de “Stonehenge espanhol”, que havia sido submerso na década de 1960. A informação é do La Vanguardia.
Com cerca de 5.000 anos de idade, o dólmen de Guadalperal, localiza-se no município de Peraleda de la Mata, na província de Cáceres, Espanha. Em 1963, a área foi inundada para a criação de um reservatório, com o objetivo de promover o desenvolvimento econômico da região.
De acordo com a Câmara Municipal de Peraleda, o verão espanhol contribuiu para a emergência do complexo megalítico, composto por 140 estruturas de pedra que datam entre o terceiro e segundo milênios a.C.
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Não é a primeira vez que o monumento aflora. Em períodos de maior seca era possível visualizar as partes superiores dos menires. Porém, a seca que tem afetado o local nos últimos meses, aliada às retiradas de água do reservatório de Valdecañas, fez com que o dólmen fosse inteiramente revelado.
O acontecimento colocou especialistas e moradores locais em estado de alerta, exigindo que o resgate do monumento seja realizado antes que seja tarde demais.
Ángel Castaño é filólogo e presidente da associação de bairro Raíces de Peraleda, que estuda o passado do povoado. Ele demonstrou sua preocupação com a situação.
“A pedra ainda encontra-se em boas condições, mas o granito está mais poroso, há rachaduras… Mas o mais importante é que havia um menir com uma serpente esculpida e ele já se mostra muito erodido. Não suporta mais tempo submerso”.
Segundo Castaño, os habitantes locais sempre souberam da existência do menires, embora não conhecessem seu verdadeiro valor histórico. Porém, em 1925, o padre alemão e arqueólogo amador Hugo Obermaier descobriu o complexo monumental e começou a escavá-lo. Os trabalhos duraram dois anos e os tesouros encontrados ali foram levados para seu país de origem. Hoje, eles encontram-se expostos em um museu na cidade de Munique.
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Ao que tudo indica, o monumento já havia sido saqueado anteriormente pelos romanos, pois uma moeda e várias ferramentas romanas também foram encontradas ali.
Castaño lamentou a falta de um plano de ação para a conservação do local.
“A essa altura, devemos lamentar que as pedras também não tenham sido levadas. Ao menos teriam sido preservadas.”
Além das 140 estruturas de pedra, com algumas delas medindo até 2 metros de altura, o complexo ainda abriga uma câmara oval de cinco metros de diâmetro, bem como um corredor de acesso de 21 metros de comprimento. No final do corredor encontra-se o menir com a serpente e vários recipientes esculpidos.
Castaño afirma que a serpente atuava como “um dragão que protege o tesouro, o guardião da zona sagrada”.
Ao redor da câmara há ainda outro anel externo de pedras que dava sustentação à estrutura. Segundo os especialistas, o anel formava uma falsa cúpula, cuja cobertura desapareceu.
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Ao The Local, ele disse que não se sabe ao certo quem construiu o monumento, mas acredita que suas funções eram similares às de Stonehenge.
“O local deve ter sido criado ao longo de milhares de anos, utilizando granito transportado de quilômetros de distância.
Como Stonehenge, elas [as pedras] formavam um templo solar e um local de sepultamentos coletivos. Parecem ter tido um propósito religioso, mas também econômico, por estar em um dos poucos pontos do rio onde era possível atravessar. Era, por isso, uma espécie de centro comercial.”
Um antigo mapa do Tejo
Em entrevista ao El Espanol, Castaño apresentou uma curiosa teoria. Ele acredita que o tortuoso traçado presente no menir com as serpentes e recipientes esculpidas seja, na verdade, um mapa do rio Tejo.
“É como um traçado feito a mão por alguém que conhece perfeitamente as curvas do rio, que coincidem muito bem, embora logicamente as proporções e medidas não sejam perfeitas. O único trecho que não se encaixa é o central. Porém, essa área era a do vau de Alarza e o rio se abria [antes da construção do reservatório], de forma que seu curso pode ter mudado ao longo dos séculos. Se for verdade, seria um dos mapas mais antigos do mundo.
A ideia me ocorreu porque o dólmen encontra-se exatamente em um ponto onde o rio deixa o cânion e faz uma enorme curva muito acentuada. Essa linha do menir começa precisamente com uma curva muito acentuada.”
Falta agora a verificação por parte de especialistas para confirmar se a hipótese tem seu mérito.