Noruegueses chegam na Islândia em 872 | Oscar Wergeland
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Vikings podem ter levado morsas da Islândia à extinção

por. Thiago Marques
Publicado: Atualizado: 0 comentários 5 minutos de leitura

Uma colaboração internacional entre cientistas europeus aponta que a colonização da Islândia pelos vikings pode ter levado à extinção da morsa no país insular. A informação é do Science Daily.


Com o auxílio de análises de DNA e datação por radiocarbono (carbono-14), pesquisadores demonstraram que havia uma população única de morsas na Islândia, que foi extinta logo após a chegada dos nórdicos há cerca de 1.110 anos.

A caça ao mamífero, motivada principalmente pelo comércio de marfim, foi provavelmente a principal causa de sua extinção. O novo estudo evidenciou o que pode ser um dos primeiros exemplos de superexploração comercial de recursos marinhos.

A presença de morsas na Islândia no passado e seu aparente desaparecimento, ainda nos períodos do Estabelecimento e da Comunidade Islandesa (870-1262 d.C.), há muito tempo intrigam o mundo científico. Em um estudo recentemente publicado na revista Molecular Biology and Evolution, cientistas da Dinamarca, Islândia e Holanda buscaram desvendar a questão analisando o DNA antigo e contemporâneo, juntamente com a datação por carbono-14, de restos de morsa.

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As análises foram complementadas com estudos detalhados para encontrar locais onde pudessem ser encontrados restos mortais, topônimos e referências à caça de morsas na literatura islandesa medieval, incluindo as sagas islandesas.

Vikings podem ter levado morsas da Islândia à extinção

Vikings podem ter levado morsas da Islândia à extinção. | Foto: Chris, Adobe Stock | via Science Daily

O instigador da pesquisa e diretor do Museu Islandês de História Natural, Hilmar J. Malmquist, falou sobre a importância do estudo.

“As coleções do Museu de História Natural fornecem uma janela extraordinária para o passado que, com a tecnologia moderna, nos permite explorar os efeitos das atividades humanas e das mudanças ambientais do passado sobre espécies e ecossistemas. Isso pode ser melhor contextualizado estudando a literatura medieval islandesa, nomes históricos de lugares bem como sítios arqueozoológicos.”

Hilmar J. Malmquist

Uma população de morsas geneticamente única

Os cientistas usaram datação por carbono-14 de restos de morsa encontrados na Islândia, revelando que o animal habitou a ilha durante milhares de anos. As análises igualmente revelaram que esses mamíferos desapareceram logo após a colonização do país pelos escandinavos por volta do ano 870 d.C.

O DNA foi extraído de amostras de morsas encontradas em ambientes naturais e escavações arqueológicas. Posteriormente, os resultados foram comparados com os dados de morsas contemporâneas, mostrando que as morsas islandesas constituíam uma linhagem geneticamente única, distinta de todas as outras populações históricas e atuais de morsas no Atlântico Norte.


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O Professor Assistente do Globe Institute da Universidade de Copenhagen, Morten Tange Olsen, comentou sobre os resultados da pesquisa.

“Nosso estudo fornece um dos primeiros exemplos de extinção local de uma espécie marinha após a chegada e superexploração por parte de humanos. Além disso, contribui para o debate sobre o papel dos seres humanos na extinção da megafauna, corroborando um crescente corpo de evidências de que, onde quer que os humanos apareçam, o ambiente e o ecossistema locais sofrem.”

Morten Tange Olsen

Artigo de luxo

O marfim da morsa era um artigo de luxo em alta demanda e amplamente comercializado na Era Viking e na Europa Medieval. Presas dos animais eram lindamente ornamentadas, tendo sido documentadas em lugares tão distantes quanto o Oriente Médio e a Índia.

Vikings podem ter levado morsas da Islândia à extinção

Cabeça de báculo feita de marfim de morsa (1050-1100). | Foto: Zde | via Wikimedia Commons

A maioria dos exemplos de comércio, superexploração e extinção de recursos marinhos locais pela atividade humana são mais recentes, no entanto. É o caso da sobrepesca e a caça comercial de baleias levadas a cabo nos últimos três séculos.


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A autora principal do artigo e doutoranda no Globe Institute, em Copenhagen, e no Arctic Centre em Groningen, Xénia Keighley, falou sobre os resultados do estudo.

“Mostramos que já na Era Viking, há mais de 1.000 anos, a caça comercial, os incentivos econômicos e as redes comerciais eram de escala e intensidade suficientes para resultar em impactos ecológicos significativos e irreversíveis no ambiente marinho, potencialmente exacerbados por um clima em processo de aquecimento e pelo vulcanismo. A dependência por recursos de mamíferos marinhos para consumo e comércio tem sido subestimada até os dias de hoje.”

Xénia Keighley

Os nórdicos da Era Viking foram as primeiras pessoas a se estabelecer permanentemente na Islândia, por volta do ano 870 d.C. Posteriormente, colonizariam a Groenlândia, onde também caçavam morsas para a alimentação e comércio de presas e couro.

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