Em um novo estudo, o Prof. Dr. Rualdo Menegat da UFRGS revelou segredos por trás da construção do santuário inca de Machu Picchu. A informação é do Archaeology & Arts.
Um dos destinos turísticos mais requisitados, o antigo santuário inca de Machu Picchu, localizado no atual Peru, é considerado uma das maiores realizações arquitetônicas da humanidade, sendo reconhecido como Patrimônio Mundial da UNESCO.
A cidade foi construída no estreito cume de um desfiladeiro na cordilheira dos Andes, sendo famosa pela integração perfeita com a paisagem onde está inserida. Mas, por que motivo os incas resolveram construir Machu Picchu em um lugar tão inacessível?
Segundo o Prof. Dr. Rualdo Menegat, do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a resposta pode estar relacionada às falhas geológicas sob o santuário.
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No dia 23 de setembro, durante a reunião anual da Geological Society of America na cidade de Phoenix, Estados Unidos, o geólogo da UFRGS apresentou os resultados de uma análise geoarqueológica detalhada que sugere que os incas construíram intencionalmente Machu Picchu, bem como outras cidades, em locais de encontro de falhas tectônicas.
“A localização de Machu Picchu não é uma coincidência. Seria impossível construir algo assim nas altas montanhas se o substrato não fosse fraturado.”
Uma cidade construída sobre falhas geológicas
Combinando imagens de satélite e medições de campo, Menegat mapeou uma densa rede de fraturas e falhas que entrecruzam-se abaixo do santuário. Sua análise indica que essas características variam amplamente em escala, de pequenas fraturas visíveis em pedras individuais, a grandes lineamentos de 175 quilômetros de extensão que controlam a orientação de alguns dos vales fluviais da região.
Menegat descobriu que essas falhas e fraturas ocorrem em vários conjuntos, alguns dos quais correspondem às principais zonas de falhas responsáveis pela elevação da zona central da Cordilheira dos Andes nos últimos oito milhões de anos. Como algumas dessas falhas são orientadas na direção nordeste-sudoeste e outras tendem para noroeste-sudeste, elas coletivamente criam um “X” onde se cruzam sob Machu Picchu.
O mapeamento realizado pelo pesquisador sugere que os setores urbanos do santuário, os campos agrícolas circundantes, bem como edificações e escadas, são todos orientados seguindo o traçado dessas falhas mais importantes.
“O layout reflete claramente a matriz de fratura subjacente ao local.”
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Segundo Menegat, outras cidades antigas dos incas, incluindo Ollantaytambo, Pisac e Cusco, também estão localizadas no cruzamento de falhas. Ele acrescenta que todas elas expressam as principais direções das falhas geológicas do lugar.
Os resultados de Menegat indicam que a rede subjacente de falhas e fraturas foi tão essencial para a construção de Machu Picchu quanto seu lendário trabalho em pedra. Sua alvenaria sem argamassa apresenta pedras tão perfeitamente encaixadas que é impossível deslizar um cartão de crédito entre elas. Habilidosos pedreiros, os incas aproveitaram os abundantes materiais de construção disponíveis na falha geológica.
“A intensa fratura predispôs as rochas a se romperem ao longo dos mesmos planos de fraqueza, o que reduziu bastante a energia necessária para esculpi-las.”
Local propício para a construção do santuário
Além de ajudar a moldar pedras individuais, a rede de falhas em Machu Picchu provavelmente ofereceu aos incas outras vantagens, segundo Menegat. A principal delas foi a disponibilidade de uma fonte de água.
“As falhas tectônicas da área canalizaram a água de degelo [dos cumes das montanhas] e a água da chuva diretamente para o local.”
Menegat acrecentou que a construção do santuário em uma posição tão elevada também teve o benefício de isolar o local de avalanches e deslizamentos de terra, riscos muito comuns nesse ambiente alpino.
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As falhas e fraturas subjacentes a Machu Picchu também ajudaram a drenar o local durante as intensas tempestades constantes na região.
“Cerca de dois terços do esforço para construir o santuário envolveu a construção de drenagens subterrâneas. As fraturas pré-existentes auxiliaram o processo e contribuíram para sua excepcional preservação
Machu Picchu claramente nos mostra que a civilização inca era um império de rochas fraturadas.”